O QUE SÃO CRISES EPILETICAS PARCIAIS OU FOCAIS
O QUE SÃO CRISES EPILETICAS PARCIAIS OU FOCAIS
Inicialmente, destacam-se as crises motoras jacksonianas que se caracterizam por convulsões clônicas. Estas podem se manifestar em uma porção de um hemicorpo, onde permanecem localizadas, ou propagar-se a regiões vizinhas, atingindo todo o himicorpo. Tal crise é própria de uma descarga da circunvolução pré-rolândica e do setor correspondente do tálamo e de estruturas mais profundas. As convulsões localizam-se de preferência no polegar, indicador, comissura labial e halux, o que justifica pela representação sômato-tópica destas estruturas sobre o córtex, as convulsões passam de um território a outro, seguindo uma ordem de representação cortical. Tal seqüência, denominada marcha jacksoniana não constitui regra absoluta, podendo ser substituída por uma propagação subcotical muito mais rápida (de 1 a 20 segundos ) que varia de crise para crise. A crise jacksoniana se segue, às vezes, de paralisia pós-crise (denominada paralisia de Todd) que afeta os grupos musculares que apresenta as convulsões. Habitualmente, esta paralisia ou paresia é interpretada como um estado de exaustão, de esgotamento metabólico a que foram levados neurônios que participaram de descarga epiléptica. Tal paralisia pós-natal deve ser diferenciada da paralisia ictal, que ocorre, excepcionalmente, em certas formas de epilepsia. Caracteriza-se por uma paralisia flácida, transitória, de um membro ou segmento de membro, constituindo a crise amiotônica parcial, tratando-se de fenômeno de inibição local desenvolvido na região sômato-motora. Dentre as crises motoras devem ser focalizadas ainda as crises versivas, nas quais se verifica o deslocamento conjugado dos olhos, da cabeça e do tronco para o lado oposto ao hemisfério que descarrega, sob o efeito de grupos musculares bilaterais e sinérgicos. Excepcionalmente, o desvio pode ocorrer para o lado que descarrega (crises ipsiversivas). Nestas crises, podemos observar: -O simples desvio conjugado dos olhos pode ser tônico, se o deslocamento é lento e os olhos se colocam em posição extrema, ou clônico, quando aparecem movimentos rápidos como se fosse um nistagmo (movimentos óculo clônicos). -O desvio conjugado de cabeça e do olhar, como se o paciente olhasse para trás. -A crise versiva propriamente dita que associa, ao desvio conjugado de cabeça e dos olhos, a elevação e abdução do braço homolateral semifletido e de punho fechado. -A crise giratória, na qual à crise versiva se associa uma rotação do corpo, como se o paciente fosse fazer um giro sobre si mesmo. -As crises versivas podem ocorrer como conseqüência de descargas de várias regiões encefálicas, mas mais particularmente de regiões frontais e temporais, enquanto as crises de desvios oculares traduzem descargas de regiões frontais posteriores ou ocipitais. -Ainda entre as crises parciais ou focais, enquadram-se as chamadas crises sensitivo-sensoriais, isto é, crises que traduzem descargas epilépticas nos setores em que ocorre a recepção de mensagens sensoriais. Assim, pode ocorrer a crise sômato-sensitiva, que é o equivalente sensitivo da crise sômato-motora e por isso chamada, erroneamente, por alguns, de crise jacksoniana sensitiva. Caracteriza-se por sensações sem objeto (parestesias) que podem se traduzir por uma sensação positiva de formigamento, picada, choque elétrico ou uma sensação negativa de insensibilidade. Tais crises traduzem descarga do córtex pós-rolândico, acometendo principalmente as extremidades dos membros, língua e região peri-oral, propagando-se segundo a mesma marcha jacksoniana lenta, subcortical, das crises sômato-motoras. As crises visuais se caracterizam por sensações luminosas sem objeto, de caráter positivo (fosfenas) ou sensações de caráter negativo (escotomas, amaurose). As sensações luminosas são as mais variadas possíveis, sendo freqüentemente descritas como discos ou bolas brilhantes brancas ou coloridas que se encontram ou não em movimento. Podem ser percebidas no campo visual oposto ou córtex ocipital que sofre a descarga ou em ambos os campos. A crise auditiva constitui-se de paracusias, isto é, sensações sonoras sem objeto, em geral referidas bilateralmente, quase sempre de caráter positivo (acufenas) e que podem ser descritas como um som contínuo, grave ou agudo, ou então um som interrompido no que diz respeito ao ritmo. Quando ocorre uma descarga da região ântero-superior do uncus temporal, o paciente refere uma sensação de odor, em geral desagradável e difícil de identificar, e que constitui a crise olfativa ou uncinada. Quando à crise gustativa, é extremamente rara e traduz descarga do lobo temporal. Ainda correspondendo à descarga de uma região mal determinada do lobo temporal, podem surgir as crises vertiginosas, constituídas por sensação de deslocamento para cima, para baixo, em eixo giratório do corpo em relação ao meio. Dentre as crises parciais, devem ser citadas, ainda, as crises vegetativas, com manifestações clínicas as mais variadas (cardiovasculares e circulatórias, digestivas, respiratórias, etc.) Essas crises raramente se manifestam isoladamente, associando-se, de maneira geral, a outras manifestações de crises parciais mais complexas. Ainda enquadradas como crises parciais, porém com sintomatologia bem mais complexa, estão as crises psíquicas, ou psico-sensoriais que podem se dividir em dois tipos: ILUSÕES - Nas ilusões, ocorrem alterações das percepções, o objeto é efetivamente percebido com forma ou dimensões alteradas. Assim, podem se manifestar ilusões visuais somestésicas (deformações de uma parte do corpo), auditivas, vertiginosas, olfativas e gustativas, correspondendo a descargas de regiões temporais, têmporo-ocipitais e têmporo-parietais. ALUCINAÇÕES - As crises alucinatórias constituem-se de percepção sem objeto, podendo ser visuais, auditivas, olfativas etc. As mais freqüentes são as visuais, descritas pelos pacientes como se fossem cenas de um filme colorido ou em preto e branco, ora acelerado, ora em câmara lenta. Todas as crises sensitivas, sensoriais e psíquicas, que correspondem a descargas de setores do encéfalo, encarregados de receber mensagem sensitivo-sensoriais, são denominadas auras. Podem constituir apenas o início de uma crise motora que ocorre, a seguir, ou se limitam exclusivamente à experiência sensorial, mas constituem, em si mesmas, a própria crise se tem grande valor para a identificação do foco epiléptico inicial.
PAULO ROBERTO SILVEIRA
Enviado por PAULO ROBERTO SILVEIRA em 07/06/2009
Alterado em 07/09/2009 Copyright © 2009. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |