O QUE É HEMORRAGIA SUBARACNÓIDEA (HSA)
O QUE É HEMORRAGIA SUBARACNÓIDEA
Paulo Roberto Silveira, MD Medico Aposentado da Subsecretaria de Saúde e Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro . Perito Legista Neurologista Forense do Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto/RJ INTRODUÇÃO A hemorragia subaracnóidea ocorre em conseqüência de um processo que se origina devido ao rompimento de um ou mais vasos sangüíneos que se localizam anatomicamente no espaço subaracnóideo da meninge cerebral. A hemorragia subaracnóidea maciça se deve em geral a algumas das alterações: ruptura de um aneurisma intracraniano — ou um angioma cerebral sangrante — ou uma hemorragia intracerebral extensa que tenha penetrado no espaço subaracnóide diretamente ou através do sistema ventricular. O Aneurisma intracraniano geralmente se origina em conseqüência de uma debilidade congênita da túnica média na bifurcação de duas artérias cerebrais que podem ser originalmente congênitas. Porém pode desenvolver-se sobre uma base deficiente congênita. Há dúvidas no sentido de que a hipertensão arterial seja responsável pelo surgimento do aneurisma cerebral, porém é indiscutivelmente a hipertensão arterial a responsável pelo seu rompimento. Os aneurismas congênitos podem ser únicos ou múltiplos, encontrando-se com maior freqüência em localização intracraniana da artéria carótida interna, ou na cerebral média, ou ainda na união da artéria cerebral anterior com a comunicante anterior. São de tamanhos variáveis, com diâmetro menor do que o da cabeça de um alfinete: 30 mm ou mais. Podem encontrar-se em qualquer idade. Em alguns casos se rompem na infância, porém, em mais de 50% dos casos, os sintomas aparecem entre 40 e 65 anos, sendo a mulher mais acometida do que o homem. Mas raramente podemos encontrar aneurisma intracerebral micótico devido a uma enfermidade da parede da artéria que envolve um embolo infectado que chega ao cérebro, proveniente de uma endocardite infecciosa subaguda. Este aneurisma micótico também pode originar uma hemorragia subaracnóidea. Embora menos freqüentemente, o angioma cerebral também origina uma hemorragia subaracnóidea. Qualquer que seja a etiologia da hemorragia subaracnóidea, o sangramento se difunde pelo espaço subaracnóide da meninge, desde o ponto de ruptura até o referido espaço subaracnóide. A hemorragia pode também invadir o cérebro, em particular o lobo frontal, sobretudo nas rupturas dos aneurismas que se localizam na união da artéria cerebral anterior com a arteira comunicante anterior. Um aneurisma cerebral pode sangrar simultaneamente para o interior do cérebro e para o espaço subaracnóide. Entre as causas raras de hemorragia maciça subaracnóidea deve citar-se as enfermidades hemorrágicas e o angioma medular. Em uma pequena proporção de casos, não é possível descobrir a origem de uma hemorragia subaracnóidea SINTOMAS O começo de uma hemorragia subaracnóidea originada pela ruptura de um aneurisma intra craniano geralmente é súbito e sem aviso prévio. Porém, em alguns casos, há sinais focais originados pelo aneurisma antes da sua ruptura, como a história prévia de cefaléias. A hemorragia subaracnóidea pode originar um coma súbito que pode levar à morte em poucas horas, ou originar cefaléia de pouca intensidade, que não interfere na vida normal do paciente A intensidade de coma é medida pela escala de coma de Glasgow. Abertura dos olhos: Espontânea 4 Após estímulo verbal 3 Após estímulo doloroso 2 Ausente 1 Reação Verbal Orientado 5 Confuso 4 Algumas palavras 3 Sons inarticulados 2 Ausente 1 Resposta motora Obedece ordens 6 Reação a estímulos dolorosos 5 Mecanismo de flexão 4 Reações atípicas de flexão 3 Mecanismo de extensão 2 Resposta ausente 1 Número Maximo de pontos: 15 Número mínimo de pontos: 03 Geralmente precedidos por vômitos. O coma aparece bruscamente se houver hemorragia importante. Nos casos menos graves, o paciente não perde totalmente a consciência, permanecendo em um estado de torpor, em flexão generalizada, confusão mental e irritabilidade. A cefaléia é intensa, devido à presença de sangue no espaço subaracnóide produzindo sinais de irritação meningea: rigidez de nuca , sinal de Kerning, às vezes febre. Para identificar a gravidade da hemorragia subaracnóidea usamos a escala de Hunt e Hess: Escala de Hunt e Hess: I. Assintomática ou cefaléia leve e mínima rigidez da nuca; II. Cefaléia moderada a grave, rigidez da nuca, sem déficits neurológicos focais; III. Sonolência, confusão e déficit neurológico focal mínimo; IV. Estupor, hemiparesia moderada a grave, com possíveis reações de descerebração e perturbações neurovegetativas; V. Coma profundo, rigidez de descerebração, aspecto moribundo. Em alguns casos, encontra-se lesões de fundo de olho, como pequeno papiloedema ou hemorragias uni ou bilaterais na retina, no vítreo ou na região hialina. As alterações de fundo de olho são mais fáceis de identificar quando a hemorragia subaracnóidea se localiza nos contornos dos nervo ótico. A abolição ou diminuição dos reflexos tendinosos ou abdominais, assim como a presença do reflexo plantar e extensão são sinais que podem indicar hemorragia subaracnóidea. Os sintomas focais se devem à compressão que sofrem os nervos cranianos por um coágulo ou pela invasão da hemorragia no hemisfério cerebral, surgindo no final uma hemiplegia cruzada e um coma de instauração progressiva . A hemorragia subaracnóidea que se origina na fossa posterior é a causa de uma rigidez de nuca desproporcional ao resto da sintomatologia, e sinais focais cerebelosos ou das paralisias dos nervos bulbares ou das protuberâncias. DIAGNÓSTICO Uma vez feito o diagnóstico da hemorragia subaracnóidea, deve-se puncionar o paciente na região lombar ou ventricular, a fim de confirmar-se o mesmo. O líquido cefaloraquidiano será hemorrágico, tendo algumas características: no início será hipertenso. Durante os primeiros três dias haverá hemácias no líquido cefaloraquidiano em quantidade suficiente para se depositarem no fundo do tubo de ensaio, e o líquido sobrenadante será amarelado ( xantocrômico) por três semanas. As proteínas estão elevadas em torno de três semanas. As indicações para punção lombar são: • Para obter líquido cefaloraquidiano com a finalidade de exame laboratorial e para determinar a sua pressão; • Para diminuir a pressão intracraniana, extraindo substâncias tóxicas, germes, ou outras substâncias irritativas contidas no líquido cefaloraquidiano, nas distintas formas de meningite, encefalite e hemorragia subaracnóidea; • Para introduzir no espaço subaracnóide substâncias terapêuticas ou anestésicas locais; • Para introduzir uma substância opaca para estudo radiológico como, por exemplo, mielografia. Contra-indicações da punção lombar : a) presença de um quadro de grande hipertensão intracraniana, que poderá originar herniação do bulbo no buraco occipital com resultados fatais; b) presença de uma infecção na região lombar, podendo originar a infecção do conduto medular; c) deformidade acentuada da coluna vertebral. Segundo Admas, na página 725 do Principles of Neurology 1993, a paralisia do sexto par, unilateralmente ou bilateralmente, é com freqüência atribuído a aumento da pressão intracraniana estando, neste caso, contra-indicada a punção lombar. Repetidas drenagens do LCR não são mais praticadas ( Adams- Principles of Neurology pág. 728). Uma punção lombar é o suficiente para o diagnóstico HSA, se o CT Scan foi inconclusívo. Porém este procedimento será executado para o alívio da dor de cabeça instável, a fim de se deter a repetição do sangramento, ou para medir a pressão intracraniana anterior ao procedimento cirúrgico. PROGNÓSTICO O prognóstico da hemorragia subaracnóidea depende de uma série de fatores tais como o tamanho e o lugar da hemorragia, a possibilidade de localização e da intervenção e, especialmente, a coexistência de hipertensão e de ateroma cerebral. Pode acontecer que a primeira hemorragia seja fatal ou que o paciente sobreviva a outra série de hemorragias. 1/3 dos pacientes que sofreram uma hemorragia subaracnóidea e não tenham sido tratados cirurgicamente morrem no primeiro ataque. A metade dos que sobrevivem sofrem recaída, dos quais morrem os 2/3 restantes. A maioria dessas recidivas fatais ocorrem entre a segunda e a quarta semana depois do primeiro ataque. 90% dos que sobrevivem um mês tem possibilidade de viver durante um ano, mas persiste o risco de uma hemorragia fatal. O prognóstico de uma hemorragia subaracnóidea pode basear-se nas possibilidades de se deter a mesma . O coma de curso progressivo, a taquicardia , a taquipinéia e a febre são sinais de mau prognóstico, que piora se o hemisfério cerebral tiver sido invadido pela hemorragia. Uma vez estacionada a hemorragia, se o paciente piorar nas primeiras 24 horas, seu prognóstico será fatal. Apesar da melhora que possa ter o paciente ao recuperar-se dos efeitos imediatos da ruptura do aneurisma, caso o hemisfério cerebral tenha sido atingido, o prognóstico dependerá exclusivamente da causa de que originou a hemorragia. TRATAMENTO A situação mais urgente é a conveniência da intervenção, que pode resolver-se mediante a efetuação da angiografia cerebral, supondo-se que o paciente esteja suficientemente capacitado para resistir à arteriografia . A maioria dos cirurgiões são partidários da ligadura da artéria carótida nos casos de aneurisma da porção terminal da artéria carótida interna, se o paciente convenientemente vigiado for capaz de tolerar por dez minutos a compressão da carótida em nível do colo do mesmo lado. Os aneurismas da artéria cerebral média são abordados diretamente mediante a colocação de um clip no colo do aneurisma. Contudo, os aneurismas do início da artéria cerebral anterior são mais perigosos de ser tratados cirurgicamente. Se o paciente permanecer em coma, o tratamento será sintomático. A fim de aliviar a cefaléia e as algias consecutivas de uma punção lombar (conforme já vimos anteriormente, se administra analgésicos ), o paciente deve permanecer na cama, em repouso absoluto, durante cerca três semanas. Se não houver manifestações de recorrência durante este tempo, poderá levantar-se dentro de uma semana . O paciente deverá ser aconselhado a levar uma vida a mais tranqüila possível e evitar toda atividade que possa elevar a pressão arterial. É necessário suprimir a obstipação de maneira a ser evitado todo esforço na defecação. BIBLIOGRAFIA Loyal Davis - Neuro Cirurgia, 1ª edição 1965 Método Diagnostico Neuro cirúrgico pág. 56 Cirurgia das Enfermidades Vasculares Intracraniana pág. 162 Lord Russell Brain - Neurologia Clinica 3ª edição 1969 Liquido Cefalo Raquidiano Pag. 102 Hemoragia Subaracnóidea Pág. 206 Merritt’s - Texbook of neurology Ninth Edition 1995 Lumbar Puncture and C.S.F. examination Pag. 93 Subarochnoid Hemorrage pag. 237 Subarochnoid Hemorrage ( John C. M. Brust ) pag. 275 Raymond D. Adams- Principles of Neurology - Fifth Edition - 1997 Tension Mydrocefaphslus Pag. 543 Intracranial Hemorrage Pag. 718 Ruptured Saccular Aneurys pag. 723
PAULO ROBERTO SILVEIRA
Enviado por PAULO ROBERTO SILVEIRA em 22/05/2009
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