DR. PAULO ROBERTO SILVEIRA

VIVO DE AJUDAR AS PESSOAS  A AMENIZAREM  OS SOFRIMENTOS  DO CORPO E DA ALMA.

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O TRATAMENTO DO TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR
O TRATAMENTO  DO TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR

Os pacientes vítimas de trauma raquimedular, devem ser movimentados com muito cuidado, imediatamente após o traumatismo, para evitar deslocações do osso fraturado ou luxado e agravação da lesão medular. Sua remoção só deverá  ser efetuada  em maca própria, rígida  ou em tábua, a fim de manter toda a coluna mais retificada possível. O pescoço deverá ser mantido em extensão e deverá ser evitado todo e qualquer movimento, utilizando para tal fim um cabresto.

TRAÇÃO CERVICAL - O tratamento de emergência se refere a aplicação de tração cervical nos casos em que há luxação com ou sem fratura da coluna cervical. Durante o transporte do paciente, o médico deverá efetuar uma tração utilizando as próprias mãos ou instituindo a colocação de um cabresto de couro equipado com pesos de 7 a 10 quilos. Não é aconselhável o uso do cabresto por muito tempo, devido à irritação da pele ao nível do queixo e face, causando inclusive dificuldades na alimentação do paciente.
O processo ideal de tração cervical é por meio do aparelho de VINKE, que depois de ter sido devidamente raspada a cabeça, é colocado por simples anestesia local.
A tração pode ser mantida com o paciente em posição horizontal, oblíqua ou vertical. Devido muitos pacientes estarem paraplégicos ou tetraplégicos, seria ideal em vez da utilização de camas, o emprego do arcabouço de STRIKER. A intervalos semanais, devem-se repetir as radiografias da coluna cervical onde vai se documentando a redução. A tração, normalmente, permanece por um período de 6 a 8 semanas, quando então a cabeça  e pescoço do paciente devem ser imobilizados com gesso, utilizando-se um aparelho tipo Minerva, que se conserva por um período de 6 meses.
Na falta do aparelho de VINKE, pode-se utilizar o aparelho de CRUTCHFIELD, mais antigo, menos confortável. A quantidade do peso a ser colocado quando houver comprometimento da coluna cervical, será o da tabela anexa. Em caso de não se dispor de nenhum dos aparelhos, pode-se fazer um par de orifícios de trepanação de cada lado onde devem ser inseridos os fios de aço para tração.

FERIDAS PENETRANTES -  Pacientes com feridas penetrantes de medula (projéteis de arma de fogo, arma branca, estilhaços, esquíorolas óssea) freqüentemente apresentam lesões múltiplas em diferentes partes do organismo, e o tratamento das outras lesões, de forma nenhuma deve ser proteladas. Às mais das vezes, tem prioridade pela gravidade do choque traumático ou hemorrágico. As feridas penetrantes da medula freqüentemente se associam a concussão, laceração, compressão, hemorragias e secção medula.

TRATAMENTO CIRÚRGICO - Toda esperança de recuperação está em relação direta com a liberalizacão da medula,  da compressão sofrida. A correção da agulação e deslizamento vertebral ( em especial da coluna cervical) pode ser de bom prognóstico.

A laminectomia não será indicadas nas seguintes circunstâncias:

a) Quando uma paralisia incompleta manifesta melhoria constante durante as primeiras 24 horas,
b) Se as vértebras estão mal alinhadas, porém  a prova de QUECKENSTEDT STOOKEY  for negativa.
c) Quando a duração de uma paralisia total  não tenha ultrapassado das 24 horas.
d) Sempre que os pacientes com lesão da medula espinhal não experimentar “shock” traumático.






TABELA   ANEXA


NÍVEL PESO MÍNIMO KG PESO MÁXIMO   KG
1ª Vértebra Cervical            2,5 5
2º Vértebra Cervical            3 5      a  6
3ª Vértebra Cervical            4 5      a   7,5
4ª Vértebra Cervical            5 7,5   a   10
5ª Vértebra Cervical            6 10    a    12,5
6ª Vértebra Cervical            7,5 10    a    15
7ª Vértebra Cervical            9 12,5 a     17,5


A laminectomia será realizada   com urgência nos seguintes casos:

a) No caso de haver uma paralisia incompleta, haja aumento do déficit neurológico durante as primeiras  12 a 24 horas.
b) Quando a paralisia for parcial ou total e a prova de QUECKENSTEDT STOOKEY for positiva, depois de um acidente de menos de 24 horas de evolução, cujas radiografias revelem desligamento vertebral, indicando grande compressão ou uma secção de medula.
c) Se uma paralisia incompleta  não melhora dentro das primeiras 24 horas, apesar do realinhamento das vértebras.
d) Sempre que as lesões atingirem a cauda de cavalo.
e) Uma indicação quase absoluta para a laminectomia torácica no entender de  KAHR é quando as radiografias mostram uma deformação tão acentuada que tornarão impossível no futuro o apoio do peso  corporal, ou quando uma giba traumática seja tão grande que tornará inevitável uma lesão por decúbito direto sobre ele, devendo expor a duramater, realinhando-se as vértebras realizando-se uma artrodese.
Além da laminectomia em si, outros cuidados se fazem necessários, que são os seguintes:

• Se tratar de lesão da coluna cervical, deverá ser instalado imediatamente, tração com o aparelho de VINKE ou na sua falta, com o de CRUTCHFIELD.

• Limpeza externa - Raspar completamente ampla área ao redor do ferimento, lavar com escova, água e sabão (neutro). Utilizar antissépticos comuns.

• Debridar completamente a ferida, com excisão de todo o tecido necrótico e de todos os detritos. Se a porta de entrada está afastada da linha mediana, deve ser debridada em separado, acompanhado, de fora para dentro, todo o trajeto da penetração, seguindo-se então  a  laminectomia na linha mediana.

• Proceder à laminectomia com cautela, para não empurrar para dentro do canal vertebral, possíveis fragmentos ósseos. A laminectomia se faz com maior segurança fazendo-se exposição inicial das área proximal e distal à lesão, que é, assim, a última a ser investigada e debridada de fragmentos ósseos ou corpos estranhos.










• TRATAMENTO CICÍRGICO  DO TRAUMA RAQUIMEDULAR NA EMERGÊNCIA.

Para elucidar este tópico vamos apresentar  como exemplo dois dos inúmeros casos  por nós operados nas emergências do Hospital Estadual Getúlio Vargas do Rio de Janeiro e do Pronto Socorro Central de São Gonçalo, Estado do Rio de Janeiro, como médico nerocirurgião de Plantão.


CASO I

O paciente S.A.O. deu entrada no Serviço e Emergência, com ferimento perfuro contuso nas costas e ombro direito, por projétil de arma de fogo, vítima de assalto à sua residência.
Exame inicial - Paciente encontrava-se desperto, lúcido, orientado temporo-espacialmente, em estado de choque emocional, com fortes dores, apresentando ferida perfuro contusa em ombro direito, transfixante e sem fraturas, ferida perfuro contusa, cega, nas costas a nível da região dorso lombar esquerda, provocadas por projétil de arma de fogo. Paciente com paraplegia sensitiva motora com nível em L1 L2, ausência de reflexos bulbo cavernoso e cremastérico. Foi levado ao RX revelando: projetil de arma de fogo alojado à direita, e posterior da coluna dorso lombar, com fragmentos metálicos na altura T11 e T12. O RX de tórax foi considerado normal.
Com os sinais vitais preservados, o paciente foi imediatamente removido para Sala de Cirurgia onde após um a raquicentese, sendo a prova de QUENCKENSTEDT STOOKEY positiva, indicando a presença de bloqueio medular, foi o paciente submetido a uma laminectomia descompressiva.
Laminectomia - A técnica de laminectomia utilizada foi a recomendada por  BANCROFT e PILCHER  e por  POPPEN (Fotos em anexo).  Paciente colocado em decúbito ventral, após os cuidados de assepsia e antiassepsia, de T10 e L1 foi feito a incisão superficial com bisturi, hemostasia da pele feita com pinças de Kelly, incisão longitudinal do tecido subcutâneo e do fascia expõe a ponta das apófises espinhosas. Faz-se secção lateral das  inserções ligamentosas e musculares das apófises, seguida de descolamento subperiósteo com rugina reta, até se obter campo suficiente para colocação de afastadores ortostáticos que afastem satisfatoriamente toda a massa muscular paravertebral. Após a limpeza das partes moles teremos então à vista os processos espinhosos, que no paciente encontravam fraturados pela penetração do projétil, de arma de fogo, juntamente com as lâminas vertebrais de T12. (Figura 1) Removeu-se com pinças goivas as apófises espinhosas e os ligamentos interespinhosos de T10 a L1, removendo o ligamento amarelo que liga uma lâmina à outra, procedeu-se então a laminectomia propriamente dita da área afetada, quando verificamos uma lesão completa de medula e respectiva duramater, retirando os fragmentos de projétil de arma de fogo e de esquírola óssea situados dentro do canal medular (Figura 2).





















Feito a seguir homostasia dos plexos venosos que sangravam abundantemente, com a ajuda de aspiração constante e coagulação com termocautérico (Figura 3).
Quando o campo cirúrgico  encontrava-se completamente limpo, sem presença de sangramento, pudemos então fazer um inventário no qual notamos uma lesão total de medula a nível de T11 T12, não observando sinais de batimento medular ( Figura 4).
























Procedeu-se então o fechamento dos planos cirúrgicos com fio de catgut 2-0, fechando a pele com pontos separados com mono nylon  2-0, deixando na porção caudal um dreno de Pen-Rose. Curativo compressivo, sendo o paciente encaminhado ao Centro  de tratamento Intensivo.
Pós Operatório - Após dois dias internado no Centro de Tratamento Intensivo, foi o paciente removido e  por mim acompanhado durante sete dias, no pós operatórios, estes que transcorreram sem nenhuma anormalidade, devido aos cuidados intensivos prestados pela enfermagem e perfeita cobertura antibiótica.
O paciente não apresentou melhoras na paraplegia que permaneceu com nível L1 L2 (raiz das coxas), utilizando sonda de alívio para urinar, com perfeito controle dos esfíncteres, sem queixas das terríveis dores, devido a compressão raqueana e intercostais provocadas pelas esquírolas ósseas e fragmentos de projétil de arma de fogo do canal medular.
Paciente teve alta hospitalar com ferimento cirúrgico totalmente cicatrizado, paralisia flácida de membros inferiores, usando sonda de alívio, sendo enviada à A.B.B.R., onde efetuaria tratamento fisioterápico especializado.












CASO 2
O paciente C.A.S. deu entrada no Serviço de Emergência, com ferimento perfuro contuso na região malar direita e ombro direito, por projétil de fogo, disparada por seu conjuge por crise de ciúmes.
Exame inicial - Paciente apresentava-se torporosa, reagindo aos estímulos álgicos, atendendo mal às solicitações verbais, com pupilas isocóricas, midriáticas, fotoreagentes,  rigidez de nuca, tetraplégica, com nível sensitivo em C6 C7, ferida cega por projétil de arma de fogo na região malar direita e ombro direito, hematoma palpebral esquerdo, escoriações generalizadas, porém, respirava espontaneamente sem necessidade de aparelhos mecânicos.
O Raio X revelou a presença de projétil de arma de fogo dentro do canal raquimedular, a nível C6, feito raquicentese, a prova de QUENCKENSTED STOOKEY foi positiva, sendo a paciente encaminhada à Sala de Cirurgia para laminectomia descompressiva.
Laminectomia - A técnica e o procedimento foi o mesmo utilizado e relatado na apresentação do caso anterior, só mudando a anatomia da coluna torácica para a coluna cervical. Paciente foi submetido a uma laminectomia descompressiva de C5 a C7, com retirada de fragmentos de projétil de arma de fogo, dentro do canal medular. Após hemostasia cuidadosa, do campo operatório notamos a presença duma lesão parcial da duramater, que foi devidamente suturada com fio de mononylon 6-0, tendo o gosto de observar que após a retirada dos fragmentos de projétil de arma de fogo e esquiírolas ósseas, hematomas de dentro do canal, a medula cervical voltou novamente a pulsar, sincronicamente com os batimentos cardíacos da paciente.
Feito o fechamento por planos com fios catgut 3-0, e fechamento da pele com pontos separados com fio de mononylon 3-0, foi imobilizada com colar de SHANTZ, gessado, e enviado aos Centro de Tratamento Intensivo.
Duas horas após, a paciente foi por mim examinada no Centro de Tratamento Intensivo, tendo a satisfação de constatar o início dos movimentos de membros superiores com baixamento do nível de sensibilidade para linha bimamilar T4 T5, havendo uma chance de bom prognóstico para o caso, o que realmente mais tarde se confirmou.
OUTRAS INDICAÇÕES DE EMERGÊNCIA

• Se, ao radiografar o paciente, descobrem-se fragmentos ósseos no canal vertebral, ou ao fazer a raquicentese, revelar a presença de bloqueio, o paciente deverá ser submetido a laminectomia. No primeiro caso os fragmentos ósseos são removidos e no segundo caso controlam-se as hemorragias (epidural, subdural, intramedular) ou descomprime-se a medula (congestão e edema).

• A síndrome aguda de lesão anterior da medula, produzida por hérnia aguda de disco intervertebral com compressão da medula, necessita intervenção imediata, indicação que o bloqueio liquórico produzido por esta lesão, já evolue para mau prognóstico, mesmo que clinicamente a síndrome não tenha sido reconhecida.

• Hematomielia - Como a hematomielia atinge predominantemente a substância cinzenta ao nível do canal central da medula, sua sintomatologia se assemelha à da seringomielia térmica e dolorosa desaparecem nos dermátomos correspondentes à área hematomiélica, por compressão das fibras condutoras dessas modalidades de sensibilidade ao nível de sua decussação, anterior ao canal central da medula. As colunas posteriores, normalmente não são atingidas, garantindo a preservação de tato, vibração e sentidos de posição e movimento. Se a hematomielia se estende lateralmente, atinge os feixes piramidais, lesando primeiramente os mais internos, correspondentes aos membros superiores, produzindo fraqueza ou paralisia dos movimentos das mãos e dos braços; extensão maior lesa, a seguir, as fibras correspondentes  aos membros inferiores, causando tetraplegia; ordinariamente salvam-se as fibras correspondentes à região sacra. Extensão da direção dos cornos anteriores da medula fará aparecer nos músculos correspondentes aos segmentos lesados, paralisia flácidas, com atrofia e arreflexia. Sintomas mais complexos podem resultar de hematomielia de grandes proporções, por comprometimento das colunas laterais, anteriores e posteriores. Quando os sintomas de hematomielia ou seringomielia, se agravam meses depois do trauma raquimedular, pensa-se que o fluido esteja se acumulando progressivamente na cavidade hematomiélica; justificando-se uma laminectomia tardia, com incisão do sulco dorso medial para evacuação da cavidade. Entretanto felizmente para o paciente, as hematomielias pós traumáticas, tende a resolver-se espontaneamente.

• O trauma raquimedular pode originar tardiamente uma hérnia de disco intervertebral crônica.

• Lesões ósseas - O tratamento das lesões ósseas (fraturas luxações) dependendo de sua gravidade, poderão exigir medidas que vão desde simples repouso no leito em posição adequada, até colocação de aparelhos de gesso ou redução cirúrgica.
Como exemplo temos o caso do paciente A.F.M. com 43 anos, vítima de trauma raquimedular devido a acidente automobilístico com fratura luxação de T3/T4 evoluindo com paraplegia sensitivo motora com nível a T5/T6. Devido a instabilidade da coluna e agravamento do quadro neurológico foi submetido a uma cirurgia de fixação da coluna torácica com duas hastes de hallis de T3/T10 bilateral, evoluído com excelente prognostico. Hoje totalmente recuperado leva uma vida absolutamente normal    

• Tratamento  clínico - O paciente traumatizado de coluna, é um politraumatizado, e como tal deve ser tratado, ou seja toda a rotina para grande traumatismo deverá ser posto em prática, como punção abdominal, radiografia de tórax, hematócrito e etc.

• Choque medular -   Como já vimos choque medular é caracterizado por paralisia motora completa com perda de sensibilidade total, perda do tono muscular, arreflexia completa abaixo do nível da lesão com perda do controle dos esfíncteres. Nas lesões parciais da medula, o choque medular produzem reações vasculares e edema da medula produzindo uma secção temporária completa, sendo medicada com Dexametosona,, dose de ataque empregamos 40 mg que equivale a 10 ml, usando como dose de manutenção, 10 mg, ou seja 2,5 ml a cada 6 horas, que serão paulatinamente retirados, dependendo da evolução do caso, até atingir a dosagem de 4 mg = 1 ml Ev de 6 em 6 horas que por sua vez será também retirados da prescrição paulatinamente ou seja, 4 mg = 1ml Ev de 8 em 8 horas, passando para 4 mg = 1ml diários até que com desaparecimento do choque medular reapareça os reflexos e funções neurológicas dos elementos anatomicamente íntegros.
Prevenimos a hemorragia digestiva, com o emprego de cimetidine 300 mg Ev de 6 em 6 horas que iremos suprimindo também paulatinamente de acordo com a diminuição da dosagem da dexametasona.
Caso seja necessário uma cobertura antibiótica, utilizamos por ex. Amplicilina ou Cefelosporim 1g associado ao emprego de um amino-glicosídio como Garamicina de 80 mg.  





PROFILAXIAS


   O paciente politraumatizado que apresentou um trauma raquimedular, da sala de exame ou da sala de cirurgia, é enviado a enfermaria para repouso  e observação. Será então submetido a exames periódicos, com a finalidade de surpreender logo de início o aparecimento de alguma infecção ou de anotar as melhoras que possam permitir uma reavaliação do prognóstico inicial. Os maiores problemas de enfermagem se referem aos pacientes com paraplegia ou tetraplegia, que logicamente necessitam de mudanças constantes do decúbito, combinada as fraturas e luxações da coluna que por sua vez exigem imobilidade total da mesma.

1. Dor - O problema da dor, normalmente no pós-operatório, deve ser resolvido com o emprego de analgésicos usuais (Novalgina, aspirinas, etc.) reservando-se o uso de morfina e seus derivados para os casos mais graves, como pacientes com lesões torácicas ou lombares. Em casos justifica-se exploração do local da lesão com a finalidade de desfazerem-se aderências, aproveitando-se a oportunidade para praticar, se indicada, rizotomia posterior de dois ou três segmentos. Quando a dor se transforma em problema incontrolável, a cordotomia antero-lateral tem indicação e, falhada este, há casos em será indicada uma lobotomia pré frontal.

2. Cama - A cama deve ser firme, com um colchão de espuma de borracha colocada sobre estrado de madeira. É importante que se mantenham os lençóis limpos, secos e livres de dobras ou rugas, mudando-se sempre que necessário. É boa norma pulverizar os lençóis com talco, bem como o paciente. Em lesões complexas, o leito ideal para o paciente é o arcabouço de STRIKER.

3. Prevenção das úlceras de debútico - Cama sempre seca e limpa, com lençóis bem passados, recobertos por talco; troca das roupas do corpo e da cama sempre que sujos ou molhados; mudança freqüente do decúbito (a cada 2 horas) uso de dietas com alta caloria, alta proteína e vitaminas; e se necessário transfusões para conservar a taxa de hemoglobina acima de 14 g e concentração de proteína sérica acima de 6,5 g; proteção especial para os tornozelos, quadris e sacro, colocando-se travesseiros de espuma de borracha sob o corpo de tal forma que essas porções não se apoiem diretamente sobre o leito, ficando sempre em contato com o ar; banhos freqüentes, à base de álcool, talco e massagens constituem as medidas essenciais à profilaxia das escaras. Algumas clínicas tem empregado o uso de pele de carneiro com a respectiva lã, como forro dos colchões, para a prevenção do atrito e consequentemente   prevenção das escaras de decúbito.

4. Excreções - No início aplicam-se enemas diariamente, e depois a cada dois a três dias; óleo mineral deve ser dado pela boca toda noite, para facilitar a eliminação de fezes.
Uma sonda de Foley deve ser colocada na bexiga  logo no primeiro dia, sob condições, rigorosamente assépticas; a sonda evita a hiperdistensão da bexiga se houver retenção e a cama molhada provocada pela incontinência. A sonda deve conservar-se fechada, para ser aberta de cada 6 horas com o fim de esvaziar a bexiga com periodicidade, mantendo-lhe o tono. A bexiga deve ser irrigada a cada 6 horas.
Antibióticos e quimioterapeuticos, empregados para profilaxia de infecções no pulmão, ou nas feridas, auxiliam também a manter o trato urinário livre de infecções. Caso ocorra uretrite, abscesso periuretral, prostatite, epidimite ou orquite impõe-se uma cistomia suprapública, sempre com conferência com o médico especialista.

5) Alimentação e hidratação - No profilaxia das escaras de decúbito, a dieta deve ser rica em alta caloria, alta proteína e vitaminas. Caso não haja cooperação do paciente para alimentar-se, suplementos devem ser administrados por via venosa, sendo particularmente útil o emprego repetido de transfusões de sangue com controle por hemogramas. Hidratação deverá ser mantida com um mínimo de 3.000 ml de fluidos diariamente para um adulto.

6) Profilaxia de infecções - Antibióticos e quimioterápicos devem ser cuidadosamente empregados,  não só quando houver feridas abertas, como também para evitar infecções pulmonares e urinárias. A mudança freqüente de posição no leito, favorece a conservação do bom estado pulmonar. A presença da sonda na bexiga contribui para o aparecimento de infecções urinárias; deve ser trocada semanalmente e retirada tão logo se perceba a micção automática pode se desenvolver. A cobertura antibiótica no caso de infecções urinárias deverá ser feita após ter solicitado a cultura e antibiograma da urina, a fim de erradicar com o antibiótico certo as bactérias específicas. O repouso forçado, em decúbito, é responsável pelo aparecimento de osteoporose e acentuado aumento de cálcio na urina. Esse aumento de cálcio, aliado à estase urinária na pelve dos rins, que ocorre no paciente mantido em decúbito prolongado favorece a formação de cálculos urinários, que por sua vez contribuem para instalação de pielonefrite crônica. É portanto indispensável que se permita ao paciente a posição assentada, com transferência para cadeira o mais cedo possível.

7) Reabilitação - O Plano de reabilitação dos pacientes deve ser posto em prática ainda na fase aguda, consistindo, a princípio, de massagens e manipulação de todas as articulações. Passada  a fase aguda, o paciente deve ser transferido para um serviço de reabilitação, com a finalidade de aproveitar ao máximo os movimentos disponíveis, no sentido de tornar-se auto-suficiente. No sentido de reabilitação há  necessidade de se continuar com cuidados referentes a bexiga neurogenica, cabendo ao médico urologista indicar, quando necessário, cistometria, cistouretrografia, cistoscopia, bloqueios do nervo pudendo e ressecção transuretral do esfincter  da bexiga.

8) Espasmos - Alguns pacientes desenvolvem paraplegia em flexão, com espasmos brutais, provocados por estímulos mínimos nas pernas ou nos pés. Esses espasmos impedem o progresso do paciente no programa de reabilitação e devem  ser controlados por medidas neurocirúrgicas. Destas, a mais fácil é a injeção de álcool a 95º nos espaços sub-aracnoides lombares, procedimento que se reserva a paciente com secção completa da medula e ausência absoluta de controle vesical. A injeção é indolor e proporciona anestesia na área posterior das nádegas, incluindo pequenas porções das coxas e região perineal.
Caso o paciente retenha algum controle vesical, apesar da seção completa da medula, a intervenção de escolha é a rizotomia anterior bilateral, com secção das raízes anteriores a partir da 10ª raiz torácica até a 1ª raiz sacra. Não se podem incluir a 2ª e 3ª raízes sacras, que seriam responsáveis pelo controle vesical.

9) Estado emocional - O paciente vítima de trauma raquimedular, está sujeito a ansiedade, depressão e psicoreuroses em geral, necessitando muitas vezes da contribuição do médico psiquiatra, e do tratamento psicoterápico.













COMENTÁRIOS

Concluímos portanto, que o tratamento do paciente traumatizado de coluna começa no próprio local de socorro, sendo  indispensável a perfeita imobilização do paciente, principalmente quando se trata de lesão de coluna cervical, que deverá ser providenciada através da colocação de um cabresto, fixado pelas mãos do médico socorrista ou então pela colocação de pesos.  A remoção  do paciente deverá ser processada com todo cuidado, utilizando macas desmontáveis articuladas que se encaixam por baixo do paciente evitando mobilizações indesejáveis.
Não podemos esquecer que o paciente vítima de trauma raquimedular, é um politraumatizado, sendo portanto indispensável uma abordagem visando este fato, ou seja, verificar e controlar as situações que representam risco imediato de vida, que são três: obstáculos à ventilação e expansibilidade pulmonar, choque hemorrágico e tamponamento cardíaco. Bastando portanto, uma avaliação rápida da gravidade do paciente, visando às condições respiratórias, cardiocirculatórias, lesões hemorrágicas externas e claro, um exame neurológico rápido e orientado quanto ao tipo de lesão raquimedular.
Chegando ao Serviço de Emergência, deverá ser medicado sintomaticamente, sendo encaminhado imediatamente ao Serviço de Raio X, onde será submetido a um minucioso estudo radiológico. A raquicentese e conseqüente prova de QUENCKENSTEDT STOOKEY, quando positiva, somada à orientação radiológica, indicaria a remoção imediata do paciente para o Centro Cirúrgico, onde seria submetido à uma laminectomia exploradora, que muitas vezes feita no momento hábil (antes de 24 horas após o acidente), leva a um prognóstico inteiramente favorável conseqüentemente à recuperação e retorno para o convívio social e familiar de um elemento, que horas antes estava a um passo da morte; ou duma lesão irreversível de medula.





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PAULO ROBERTO SILVEIRA
Enviado por PAULO ROBERTO SILVEIRA em 11/06/2009
Alterado em 06/08/2009
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